segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Un Gaucho llamado Schlee!

Saudamos o ano de 2010 apresentando aos leitores do Diálogos en Mercosur um “velho amigo tão recente e querido”... plagiando as palavras tão gentis e amáveis escritas na página cinco de meu exemplar de sua última obra Os limites do Impossível - Contos Gardelianos. Nosso ilustríssimo amigo é um escritor fantástico, um professor constantemente pronto a ensinar, um intelectual sempre refletindo sobre nossas raízes... falo de "un gaucho llamado Schlee...".
Recentemente o matutino gaúcho Zero Hora publicou a seguinte matéria sobre nosso querido professor:
23 de dezembro de 2009 LIVROS

Gardelianas
Em novo livro, Aldyr Garcia Schlee faz ficção a partir de relatos de mulheres envolvidas com as origens do cantor Carlos Gardel

Você certamente já ouviu falar da controvérsia em torno das origens de Carlos Gardel – el morocho, el mago, o cantor de tango cuja voz se confunde com o gênero musical que representa teria nascido em Toulouse, na França, ou Tacuarembó, no Uruguai? A polêmica não existe, garante Aldyr Garcia Schlee.

O escritor, que nasceu em Jaguarão, sempre viveu entre o Rio Grande do Sul e cidades uruguaias como Melo e Treinta y Tres e hoje mora em Capão do Leão, zona sul do Estado, dedicou anos de pesquisa à vida de Gardel. Concluiu que sua alegada origem francesa foi um golpe “dedicado a tomar a sua herança”. Mais: fascinado pelo contexto ao mesmo tempo bucólico e sórdido em que o intérprete nasceu, escreveu um romance sobre o tema. Chama-se Os Limites do Impossível – Contos Gardelianos. E é um livro notável.

São 12 contos, cada um dando voz a uma mulher daquele contexto. Contos ou um romance?

– Não sei – responde Schlee. – Minha ideia sempre foi contar uma história única, porém dividida em fragmentos que representam diferentes pontos de vista dos acontecimentos.

E que acontecimentos. Clara, título do primeiro desses fragmentos, vive numa morada rural em La Fructuosa, Tacuarembó. É apaixonada pelo filho do leiteiro, um amor platônico, doce, dotado de uma ingenuidade que combina com aquele ambiente mas que é quebrada quando ela se vê forçada a casar com outro homem. A partir daí, primeiro pelos olhos da mucama Felicia, depois da senhora Juana, o cenário que se revela é dos mais abjetos, com paixões incontidas, mentiras, traições em âmbito familiar, incesto. Tudo levando à figura – ou partindo dela – do Coronel Carlos Escayola, o pai de Gardel, e culminando com o nascimento do cantor de Mano a Mano.

– Admito que há uma certa fabulação, por exemplo, na construção da personagem Mulata-Flor. Mas ela existiu. Tudo ali existiu – afirma o autor. – Há tanta verdade na história que, lá pelas tantas, decidi não mais ir a Tacuarembó. A casa onde Gardel nasceu está lá, o lugar permanece com as mesmas características. Como digo no livro, a semelhança entre o que é narrado e o que aconteceu não é só uma coincidência, mas a prova de que a realidade, como a ficção, também é feita do improvável, do inacreditável.
Os Limites do Impossível é um lançamento da nova editora porto-alegrense ARdoTEmpo. Está à venda com duas opções de capa.

O mito
Carlos Gardel nasceu no dia 11 de dezembro. As referências biográficas mais recorrentes dão conta de que teria sido em 1884 ou 1887, em Tacuarembó, ou 1890, em Toulouse. Ele chegou a dizer que nascera no Uruguai, mas, depois de sua morte, um testamento que teria sido escrito pelo cantor dava conta de sua origem francesa.
Radicado em Buenos Aires, foi o criador do tango-canção, no final da década de 1910, que revolucionou e ajudou a popularizar o gênero. Lançou sete longas e dezenas de discos antes de morrer em um acidente de avião, em Bogotá (Colômbia), em 1935.

O autor
O escritor Aldyr Garcia Schlee tem 75 anos e também é conhecido por seu trabalho como designer. É ele o criador da clássica combinação verde-amarela do uniforme da seleção brasileira, escolhida em concurso público nos anos 1950 – antes o Brasil jogava de branco ou azul.
Natural de Jaguarão, reside hoje em Pelotas/Capão do Leão, no estado do Rio Grande do Sul-Brasil, e tem livros de contos publicados tanto no Brasil quanto no Uruguai. Entre eles, Linha Divisória, Uma Terra Só, Contos de Futebol e O Dia em que o Papa Foi a Melo, sobre o mesmo episódio retratado no filme O Banheiro do Papa (2007).
___________
Dom Carlos, verdades e mentiras de Gardel

Jogo de espelhos e de simulacros, narrativa que se declara ficção quando se quer realidade, conjunto de contos que na sua essência compõe um romance, polifonia de desgarradas vozes femininas – todas prisioneiras da obsessão de confessar o que em suas vidas são desejos proibidos, transgressões ilimitadas e sombras –, universo monstruoso e, paradoxalmente, lírico, de onde emerge a figura impenitente do fazendeiro Dom Carlos que, como um demônio do pampa, atrai, seduz e desgraça para sempre os corpos e as almas de suas vítimas. Ele, o que recebeu a maldição do sexo sem peias. Ele, o pai de Carlos Gardel.

Nesta realidade movediça, próxima da alucinação e da impostura, em que tudo é e não é, neste mundo movente transcorrem os acontecimentos do romance Os Limites do Impossível, de Aldyr Garcia Schlee, cujo subtítulo – Contos Gardelianos – já aponta para a natureza aberta da obra. Falsos contos, como falso talvez seja o Gardel que se origina dos amores interditos?

Além de renovar as possibilidades do relato histórico, tanto na estrutura quanto na linguagem, o texto de Aldyr (que vive isolado numa fazenda decadente em Capão do Leão), com seu toque de irrealidade, suas lacunas intencionais, sua atmosfera opressiva, suas paixões loucas, produz no leitor uma experiência de arrebatamento. Não lembro de ter lido na ficção brasileira da última década algo que me causasse tão fortemente a impressão de beleza pungente e de inventividade.

Sergius Gonzaga
Professor de Literatura, secretário municipal da Cultura de Porto Alegre
____
O DialógosenMercosur presta esta homenagem ao nosso querido amigo Aldyr Schlee certo que os leitores de nosso blog ficarão tão apaixonados pela leitura da obra quanto aqueles que já tiveram o prazer de fazê-la, seja aqui neste Sur del Sur, seja ao Norte del Norte.
DialógosenMercosur
(*) Foto de nosso arquivo pessoal.
Link da matéria: Zero Hora

Nenhum comentário:

Postar um comentário